08 jul

No dia 07 de julho de 2020, às 10h, o Instituto de Matemática e Estatística e o Departamento de Ciência da Computação da UFBA estavam em festa. Era realizada a primeira colação de grau virtual do Bacharelado em Ciência da Computação da UFBA. Uma cerimônia histórica e muito emocionante!

Devido a disseminação do novo coronavírus (COVID-19), as atividades da UFBA foram suspensas. Assim, por meio da Portaria 159/2020 do gabinete da Reitoria foi autorizada a outorga de grau aos estudantes concluintes dos cursos de graduação UFBA via videoconferência.

A cerimônia foi realizada na sala de videoconferência da Direção do IME e transmitida para o público em geral no canal do Instituto no Youtube. Na sala de videoconferência estiveram presentes os 14 formandos e seus familiares, o Diretor do Instituto de Matemática e Estatística (IME), Prof. Evandro Santos; a coordenadora do Bacharelado em Ciência da Computação (BCC), Profa. Vaninha Vieira; o chefe do Departamento de Ciência da Computação (DCC), Prof. Ivan Machado; e os professores Danilo Coimbra e Ecivaldo Matos, além dos colaboradores do CEAG e CEAD. No YouTube, alguns colegas de curso, familiares e amigos dos estudantes e outros professores acompanharam a cerimônia e puderam parabenizar os formandos.

Mesmo não acontecendo da forma tradicional, a cerimônia esteve permeada de muita emoção e alegria entre os formandos (veja relação a seguir), seus familiares e docentes que participaram da cerimônia. O vídeo da cerimônia na íntegra logo estará disponível.

Relação dos Formandos e Formanda:

  • Caio Vinícius Santos Souza
  • Danilo Lopes Dourado
  • Danilo Pires Santana
  • Felipe Rebouças Ferreira Abreu
  • Fernando de Macedo Passos
  • Fernando Medeiros do Nascimento
  • Jailton Pereira dos Santos
  • João Medrado Gondim
  • João Pedro Rodrigues Cerqueira
  • Maurício Marques Moreira
  • Pedro Augusto Vitor de Santana
  • Priscila Farias Luz
  • Tiago Dória Paiva da Conceição
  • Ygor Mutti Miranda Monteiro do Carmo

Após a leitura da ata de colação de grau pela secretária Wende Lima, a coordenadora do BCC, Profa. Vaninha, parabenizou os novos bacharéis pela jornada até este momento, destacando que não é o fim, começa uma jornada nova, como profissionais, e acadêmicos. Em seguida, o orador da turma, o bacharel Maurício Marques, fez a leitura do discurso construído colaborativamente pela turma. Clique aqui e leia o discurso na íntegra ou clique aqui e assista no IGTV do IME no Instagram.

O discurso trouxe um pouco da trajetória dos alunos e emocionou a todos. Inclusive, foi abordado no discurso a questão da baixa participação feminina nos cursos de computação. Dos quatorze formandos, tínhamos apenas uma mulher. Vale destacar que de acordo com levantamento feito pelo projeto Meninas Digitais da UFBA, até o semestre 2019.1, o corpo discente do Curso de Ciência da Computação possui 10% de mulheres, o curso de Sistemas de Informação 17% de mulheres e o curso de Licenciatura em Computação 15% de mulheres. No nível de pós-graduação, a presença de mulheres tem índices de 22% e 24%, para os cursos de mestrado e doutorado em Ciência da Computação, respectivamente. O DCC já está atendo a esta questão e buscando alternativas para incentivar o ingresso e permanência de mulheres nos cursos.

A cerimônia seguiu-se com a palavra do chefe do DCC, Prof. Ivan, o qual destacou que alguns dos formandos já estão com excelentes posições no mercado de trabalho, graças ao esforço próprio dos alunos, do apoio familiar e das orientações dos professores que aconselham, apontam direções e inspiram. A seguir, alguns dos familiares fizeram uso da palavra, com mensagens de agradecimento e parabenizando os novos bacharéis.

Encerrando a cerimônia, o diretor do IME, Prof. Evandro parabenizou os estudantes e familiares e reforçou a fala do Prof. Ivan de que hoje a Universidade entrega 14 bacharéis em Ciência da Computação, pessoas que já estão bem colocadas no mercado de trabalho e que isso é sem sombra de dúvidas sinal inequívoco da qualidade do curso. Além disso, fez agradecimentos aos técnicos do CEAD e CEAG envolvidos na consolidação da colação de grau.

Por fim, os novos bacharéis, coordenadora de curso e diretor reuniram para registrar o momento da turma. Clique aqui e confira algumas fotos.

Discurso proferido por Maurício Marques na Cerimônia de Colação de Grau da turma 2019.2 do curso de Bacharelado em Ciência da Computação

Bom dia,

Quero agradecer a todas as pessoas que direta ou indiretamente dedicaram seu tempo para que esse momento pudesse se tornar real. Aos professores, orientadores, amigos e familiares presentes, gostaria de dizer em nome de todas as pessoas formandas, que, para nós, é uma honra ter vocês conosco.

O dia de hoje marca, para cada um de nós, a realização de um sonho. Sonho esse que foi planejado e replanejado tantas vezes que há quem diga que vivemos um pesadelo. Bom… hoje estamos transformando momentos de alegria e tristeza, saúde e doença, medo, desespero, coragem, amizade, queda e volta por cima em boas recordações do que iremos chamar de “a época da faculdade”.

E que época! Felizmente vencemos. E em tempos tão difíceis, é importante celebrarmos nossa vitória, ainda que remotamente, e sem o calor dos tantos abraços que nos esperam pós pandemia, porque é preciso que todos ouçam que nós somos capazes. E quando eu digo todos, eu incluo as pessoas que estão se formando hoje para que nunca se esqueçam que são verdadeiras campeãs e que tem o direito de receber com a devida honra o título que lhes é concedido.

Nós, agora formados pela Universidade Federal da Bahia, não poderíamos sair daqui sem levantar algumas reflexões sobre questões políticas e sociais, que fazem parte do nosso cotidiano, e que para muitos de nós são barreiras enfrentadas todos os dias.

A educação no Brasil sempre esteve ameaçada. Não é de hoje que vemos ela ser sucateada, esquecida, desprezada. Alguns poucos cursos, considerados “técnicos”, ainda são valorizados. E nós temos a sorte, ou o privilégio, de sermos um desses cursos. Técnicos… Se esquece, porém, quem defende que apenas algumas áreas do conhecimento merecem ser valorizadas, que elas nada são sem toda uma sociedade para apoiá-las. Nós, agora Bacharéis em Ciência da Computação, não estamos num patamar elevado perante nossos concidadãos. Pelo contrário, fazemos parte disso.

E por isso mesmo, não estamos alheios ao nosso redor. É um desafio muito grande passar por esses anos de graduação. E isto, considerando apenas as dificuldades do estudo. Porque, ao olhar para cada colega aqui comigo, vejo em cada pessoa uma história, e nelas, vejo lutas constantes, que tornam esse grau que recebemos hoje um verdadeiro título de heroísmo.

Lutas sociais estão presentes na nossa trajetória estudantil. Machismo, racismo, discriminação por renda e com pessoas periféricas e dentre tantas outras questões que são problemas nossos, a sociedade.

Gostaríamos de dizer que se engana quem pensa que este período é um mar de facilidades. Quando falamos em dificuldade de gente pobre e periférica, estamos falando de estudantes que são impedidos de comparecer a uma aula, porque os traficantes fecharam a sua rua.
E quantos colegas dependem da comida que a universidade oferece? E tem que se desdobrar para comer entre uma aula que termina às 18:30 e uma aula que começa às 18:30 também. E não. Esta fala não está errada. Nem precisamos de 4 a 7 anos de graduação para concluir que, se só a fila leva 30 minutos, não tem como uma pessoa se alimentar e assistir integralmente suas aulas.

Quando falamos em machismo, estamos falando de estudantes que são distanciadas de projetos, ou que tem que ouvir e vivenciar situações absurdas e opressoras para permanecer em um curso formado majoritariamente por homens. Observem que temos apenas uma mulher na nossa lista de formandas e devemos nos preocupar com isso. Não podemos normalizar que em um país majoritariamente formado por mulheres, dentre 14 estudantes, apenas uma está se formando aqui hoje. E podem ter certeza, não é “falta de interesse”, é falta de espaço, respeito e oportunidades..

Quando falamos de racismo, estamos falando de situações como ter o seu conhecimento subestimado, conviver com o medo de ser abordado nas ruas, da violência policial ou até mesmo temer a própria vida pela cor da sua pele. É ouvir expressões como: “você veio de escola pública, não é?”, “se até você passou, qualquer um consegue”. E não podemos esquecer do fator representatividade, termos poucos professores negros e poucos colegas negros dividindo esse espaço não pode ser normalizado. Vidas negras importam!

E se toda dificuldade fosse essa, ficaríamos felizes em não ter que dizer sobre todos os que deixam suas famílias no interior para conseguir estudar na federal, e depois de um dia duro de “humilhação” se é que me cabe essa liberdade, não ter o abraço de um familiar, ou uma refeição para compartilhar com os seus.

Ficaríamos felizes também em não precisar dizer que, enquanto para alguns, o estágio é luxo, e que a universidade é para quem tem tempo livre para estudar, para outros o estágio é a única fonte de sustento, e é com ele que o estudante come, veste, e paga seu material de estudo. E que mesmo chegando 15 minutos atrasados ou tendo que sair um pouco mais cedo, esses também estão ali porque querem aprender.

Como lidar com todas essas variáveis e ainda aprender? Foi um grande desafio para muitas de nós aqui presentes, e é uma provocação que eu gostaria de deixar pra vocês.

Não é exagero nenhum dizer que, para muitos colegas, a conclusão do curso seria impossível sem qualquer tipo de ação afirmativa universitária, que é necessária, pois permite que nossa universidade seja cada vez mais plural e justa. E esse nosso conhecimento precisa ser compartilhado, assim como os membros dessa instituição que precisam ser preservados e valorizados.

Diremos mais: forças muito poderosas se lançam contra a universidade, tentando destruí-la. E feito avanços muito perigosos, e com apoio de muitos – inclusive, vários conhecidos. Mas é preciso lembrar que, apesar de todos os problemas, e a universidade tem muitos, este é um lugar onde conhecimento é gerado e trocado, conhecimento esse que ajudará na construção de um país melhor para o futuro. E será com a união de todos nós que este lugar permanecerá vivo e vibrante.

Esta não é, e me arrisco a dizer que nunca será, uma casa de balbúrdia. O trabalho que construímos aqui é um trabalho sério, realizado com o suor e as lágrimas de gente de verdade que não está buscando apenas o melhor para si, mas uma melhora contínua no que entendemos hoje como sociedade. Não deixaremos, e pedimos que não deixem que nos diminuam. Nem aqui, nem nas urnas.

Professoras, professores, apesar das nossa imensa lista de reclamações e solicitações, nós vemos com nitidez o que vocês fazem aqui, e sabemos que não tem sido fácil. Acreditamos muito em vocês e nos trabalhos que desenvolvem dentro e fora das salas de aula. Ainda que não declaremos, vocês são, para muitos de nós, inspiração. E a voz de vocês com certeza nos acompanhará durante nossa vida futura. Vocês sabem melhor do que ninguém que isso aqui não é um adeus.

Não vamos nos estender mais. É com muito orgulho que encerro esse discurso parabenizando a minha colega e os meu colegas, agradecendo as professoras e professores que nos ajudaram a conquistar cada desafio acadêmico necessário para forjar nossa competência, e também aos amigos e familiares e a todas que se dispuseram a nos prestigiar nesta data em que se celebra a sobrevivência da ciência.

Obrigado, em nome de todas as formandas do curso de Ciência da Computação na UFBA!!!!`

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